Atenção redobrado no feriadão.
Não bastassem as sinuosas curvas e o tráfego pesado suficientes para conferir à BR-381 o título de “Rodovia da Morte”, a via federal que mais mata em Minas Gerais sofre agora com a omissão das autoridades de fiscalização e conservação.
Entre Belo Horizonte e João Monlevade, barreiras interrompem parte das faixas, quatro erosões ameaçam engolir a estrada e há muitos buracos. Tudo isso sem sinalização ou com marcações precárias, às vésperas do Natal e das férias de Verão, quando o tráfego por ali, em direção das praias do Espírito Santo e litoral nordestino, mais do que dobra, podendo chegar a 300 mil veículos num dia, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Desde a última terça-feira (15), o HOJE EM DIA percorre as principais rodovias que cortam o Estado, e a BR-381 é uma das mais movimentadas e preocupantes.
No ano passado, em 8.254 acidentes, 4.982 pessoas ficaram feridas e outras 277 morreram na BR-381. A vice-campeã em mortes é a BR-116, onde foram registradas 196 vítimas (29,3% a menos do que em 2008) em 2.690 acidentes com 2.066 feridos. A via não é inteiramente duplicada.
Dos 1.122 quilômetros, entre São Paulo e São Mateus (ES), 918 quilômetros passam por Minas Gerais. De BH a Governador Valadares, rumo às praias do Nordeste, são 300 quilômetros até Valadares, onde se toma a BR-116. Para o litoral capixaba são 106 quilômetros da capital a João Monlevade.
E esse trecho, apesar de menor, é o que apresenta mais perigos. Segundo a PRF, seriam mais de 200 curvas, média de uma a cada 500 metros. A reportagem do HOJE EM DIA contabilizou 177 curvas significativas nesse trecho, sendo que as partes mais sinuosas ficam entre Santa Luzia, Sabará e Caeté, numa sequência de 20 quilômetros com 26 curvas fechadas, e entre São Gonçalo do Rio Abaixo e João Monlevade, onde há 30 curvas em 23,4 quilômetros. Praticamente não há acostamentos. Com isso, as quebras de carretas pesadas acabam por bloquear faixas e provocar longos engarrafamentos.
No sentido Vale do Aço, os problemas começam em Santa Luzia. No trevo recém construído existe uma espécie de canteiro junto à amurada, no centro da sua extensão. O obstáculo precisou ser demarcado com barris pintados. O trecho mais perigoso fica nas proximidades do trevo de Caeté, na RMBH.
No acesso desativado para uma antiga mina de minério de ferro, as chuvas provocaram enxurradas e carrearam toneladas de terra fina e de pó de hematita para a pista. Parte desse material foi raspado por máquinas da empresa que conserva o trecho. Mas as chuvas fizeram com que mais daquele volume bloqueasse, ontem, metade da rodovia, bem numa curva fechada.
Não há sinalização do Departamento de Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) alertando aos motoristas. Enquanto a reportagem do HOJE EM DIA registrava a dificuldade dos condutores em desviar do obstáculo, um ônibus quase bateu ao frear bruscamente para não bater no monte de minério que bloqueava a passagem.
“A primeira chuva que caiu, nesta semana, já despejou tudo no meio da estrada de novo. Estão esperando é acontecer uma tragédia”, criticou o comerciante Estêvão Reis, 46 anos, que trabalha nas proximidades e precisa dirigir até o local todos os dias.
A menos de três quilômetros dali, numa curva bastante fechada, as chuvas engoliram parte da pista de sentido Belo Horizonte. Abriram uma erosão com mais de dois metros de profundidade. À frente, muitos buracos e ondulações, inclusive nas pontes recém concluídas.
Outras três erosões espalhadas pelas margens da via também ameaçam a rodovia. Três trechos de obras sobre pontes, em Roças Novas, distrito de Caeté, no Rio Vermelho, em Nova União, e em Barão de Cocais, sobre o Rio Uma inspiram muito cuidado aos motoristas. Como os operários trabalham no meio da ponte, o tráfego fica restrito às duas laterais.
De acordo com o Dnit, as empresas que conservam a via vão remover o minério que deslizou e bloqueou parte da via. O órgão informou que se deve a problemas de escoamento de uma mineradora próxima, que foi notificada e tomaria providências ou seria acionada na Justiça e responsabilizada por qualquer acidente. Ainda de acordo com o Dnit, as erosões estariam sendo monitoradas e só poderão ser consertadas na estiagem.
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