segunda-feira, novembro 30, 2009

Rodovia da Morte


Pista simples, falta de divisória entre direções contrárias e excesso de curvas a transformam na Rodovia da Morte
Paulo Henrique Lobato


ESTRADAS ASSASSINAS
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Fotos: Beto Magalhães/EM/D.A PressNa curta viagem de BH a Caeté, Eliéu Araújo quase perdeu a vida. Depois de bater na traseira de uma carreta, o Gol que dirigia invadiu a pista contrária e só parou na imensa erosão. Por sorte, não vinha um veículo em direção oposta



CAMPEÃ DE MORTES
Entra ano, sai ano e a temida BR-381 é imbatível no ranking de mortes da malha viária de Minas, o que lhe rendeu o macabro rótulo de Rodovia da Morte. Em 2008, 277 vidas foram perdidas no corredor. Boa parte no trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade, que tem apenas 110 quilômetros, mas é um leque de ciladas, como pistas simples sem obstáculo físico para separar as direções opostas e o número excessivo de curvas, que somam quase 200. As ribanceiras em alguns trechos são outros perigos que contrastam com sua importância para a economia brasileira – milhares de carretas com diferentes tipos de produtos trafegam diariamente pelo local – e para motoristas e passageiros, pois ela liga a capital a cidades importantes como Governador Valadares, e o litoral do Espírito Santo.
Convidado pelo Estado de Minas, o engenheiro Jobson Andrade, vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), avaliou os perigos da BR-381, no sentido BH/Vitória, onde os pais de Ana Paula Halabibi, de 22 anos, perderam a vida em janeiro de 2008. “O problema do Brasil é querer fazer o máximo possível com o menor orçamento. Há 50 anos, quando o processo de construção de estradas se expandiu, tínhamos uma frota de veículos bem menor. As vias foram planejadas para determinado peso e tráfego diferentes dos atuais”, frisou o especialista.
Ele observa que o traçado da rodovia, principalmente entre BH e João Monlevade, segue o caminho de vales e o contorno de montanhas, rota que hoje não é a ideal: “É o mesmo caminho que faríamos se estivéssemos a pé”. Logo no início da via, no viaduto sobre o Ribeirão das Velhas, na saída da capital, ele faz duas críticas. A primeira é a falta de drenagem: “A água se acumula na lateral da pista próxima ao pontilhão e a invade, provocando ruptura da base do asfalto e aquaplanagem”.
A outra, alerta, é a ausência de área de escape na ponte. “Além disso, há o estrangulamento da pista”. Adiante, a poucos metros do posto da PRF em Sabará, ele observa as dezenas de barracos construídos à margem da BR: “É um exemplo de como as estradas estão a deus-dará. Houve omissão do Estado, que não cuidou da área pública, e da sociedade, que deixou o poder público inerte”.
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Somente 110 quilômetros separam Belo Horizonte de João Monlevade, mas o risco de acidentes no trecho com pista simples, pontes inacabadas e desnível no asfalto é grande. É preciso ter sorte para não aumentar as estatísticas

Andrade reclama ainda da quantidade de curvas, das quais “muitas com ângulo agudo”. São cerca de 200 até João Monlevade. Para ele, passou da hora da construção de uma nova rodovia. “A engenharia do Brasil é uma das melhores do mundo. Tanto que exporta conhecimento. O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) têm profissionais qualificados. O problema é o orçamento do poder público, ou seja, a questão é política”, diz, enquanto repara, pela janela do carro, um flagrante que, por pouco, não tirou a vida do comerciante Eliéu Araújo, de 38 anos, morador de BH.
Ele seguia para Caeté e, numa perigosa curva de ângulo fechado, foi levemente tocado por uma carreta. Rodou no asfalto, invadiu a pista contrária e caiu numa erosão. O imenso buraco também é mais uma prova do abandono de investimento na infra-estrutura da BR-381. “Há duas pistas de rodagem na mesma direção, mas são tão apertadas que o caminhão não consegue ficar apenas numa. Essa estrada tem de ser destruída para a construção de outra”, reclama o homem, agradecendo a Deus, em seguida, por não ter perdido a vida: “Imagina, enquanto o carro rodava, se vem outra carreta em sentido oposto?”.

Para Jobson, a 381 não precisa de pista dupla e, sim, de tripla. Ele perdeu uma amiga na ponte sobre o Rio Engenho Velho, perto de Nova União, na década passada, quando um ônibus, que havia saído do Espírito Santo, tombou no local. “A ponte é no fim de uma descida e em curva. O projeto foi errado”. A passagem começou a ser ampliada há alguns anos, mas, por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que apurou superfaturamento, a construção foi embargada.

1 mil mortes, a cada ano, pelo menos, ocorrem nas BRs em Minas

8.254 acidentes ocorreram na BR-381 no ano passado
277 vidas foram perdidas na chamada Rodovia da Morte
200 curvas, aproximadamente, pioram trecho entre BH e Monlevade


Fonte: Uai



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